EDMUNDO DE BETTENCOURT
Edmundo de Bettencourt é considerado por todos os amadores e especialistas de Fado de Coimbra como o maior de todos os estilistas e cantores do género. Madeirense do Funchal, onde nasceu em 1899, fez parte da chamada "Década d'0iro". Mas a sua influência não ficou por aí, dado que Bettencourt foi igualmente escritor e poeta de grande importância; foi em 1927 um dos fundadores da mítica revista literária Presença, cujo elenco abandonaria em 1930. Contudo foi a música que o popularizou, de tal modo que mesmo gerações posteriores o aclamaram; José Afonso, cujo pai fora contemporâneo de Bettencourt, considerava-o o "maior cantor de fados de todos os tempos". Parece hoje claro que, para a qualidade artística de Edmundo Bettencourt, muito contribuiu o facto de ter sido acompanhado à guitarra por Artur Paredes. A história diz-nos dele ter sido menos boémio do que os seus colegas estudantes, mas também um pioneiro no aproveitamento de canções e elementos musicais tradicionais de outras zonas do país. A sua influência estendeu-se ao longo dos anos e não são poucos os cantores de Coimbra que a assumem. Edmundo de Bettencourt não gravou tanto como António Menano (conhecem lhe apenas oito discos com dezasseis gravações) mas entre elas estão faixas tão lendárias como Saudades de Coimbra (mais conhecida pelo seu verso "Do Choupal até à Lapa") ou Samaritana. Faleceu em 1973. "Saudades de Coimbra" Oh Coimbra do Mondego E dos amores que eu lá tive Quem te não viu anda cego Quem te não ama não vive Do Choupal até à Lapa Foi Coimbra os meus amores A sombra da minha capa Deu no chão abriu em Flores “Sugestão” Entro na Igreja majestosa e calma, Erro na sombra sob as arcarias Anda no ar silêncio, e a minha alma Toma a frieza das colunas frias Numa capela triste aonde espalma, Doirado ilustre, chamas fugidias, Tocam-me o peito as setas duma palma A evocar-me de Cristo em agonias Começa o som do órgão, morno, errante, E o aroma do incenso penetrante Como as garras aduncas do tormento E o já desejo acre de esquecer, De o longe e o mundo eu só escutar e ver, No coração me nasce brando e lento
"Saudades de Coimbra"
Oh Coimbra do Mondego
E dos amores que eu lá tive
Quem te não viu anda cego
Quem te não ama não vive
Do Choupal até à Lapa
Foi Coimbra os meus amores
A sombra da minha capa
Deu no chão abriu em Flores
“Sugestão”
Entro na Igreja majestosa e calma,
Erro na sombra sob as arcarias
Anda no ar silêncio, e a minha alma
Toma a frieza das colunas frias
Numa capela triste aonde espalma,
Doirado ilustre, chamas fugidias,
Tocam-me o peito as setas duma palma
A evocar-me de Cristo em agonias
Começa o som do órgão, morno, errante,
E o aroma do incenso penetrante
Como as garras aduncas do tormento
E o já desejo acre de esquecer,
De o longe e o mundo eu só escutar e ver,
No coração me nasce brando e lento