sábado, 28 de julho de 2012

POETA."Gritos de Cristal e de oiro que o Bettencourt alto erguia que é da roda que algum dia vos havia de acompanhar."

EDMUNDO DE BETTENCOURT

Edmundo de Bettencourt é considerado por todos os amadores e especialistas de Fado de Coimbra como o maior de todos os estilistas e cantores do género. Madeirense do Funchal, onde nasceu em 1899, fez parte da chamada "Década d'0iro". Mas a sua influência não ficou por aí, dado que Bettencourt foi igualmente escritor e poeta de grande importância; foi em 1927 um dos fundadores da mítica revista literária Presença, cujo elenco abandonaria em 1930. Contudo foi a música que o popularizou, de tal modo que mesmo gerações posteriores o aclamaram; José Afonso, cujo pai fora contemporâneo de Bettencourt, considerava-o o "maior cantor de fados de todos os tempos". Parece hoje claro que, para a qualidade artística de Edmundo Bettencourt, muito contribuiu o facto de ter sido acompanhado à guitarra por Artur Paredes. A história diz-nos dele ter sido menos boémio do que os seus colegas estudantes, mas também um pioneiro no aproveitamento de canções e elementos musicais tradicionais de outras zonas do país. A sua influência estendeu-se ao longo dos anos e não são poucos os cantores de Coimbra que a assumem. Edmundo de Bettencourt não gravou tanto como António Menano (conhecem lhe apenas oito discos com dezasseis gravações) mas entre elas estão faixas tão lendárias como Saudades de Coimbra (mais conhecida pelo seu verso "Do Choupal até à Lapa") ou Samaritana. Faleceu em 1973. "Saudades de Coimbra" Oh Coimbra do Mondego E dos amores que eu lá tive Quem te não viu anda cego Quem te não ama não vive Do Choupal até à Lapa Foi Coimbra os meus amores A sombra da minha capa Deu no chão abriu em Flores “Sugestão” Entro na Igreja majestosa e calma, Erro na sombra sob as arcarias Anda no ar silêncio, e a minha alma Toma a frieza das colunas frias Numa capela triste aonde espalma, Doirado ilustre, chamas fugidias, Tocam-me o peito as setas duma palma A evocar-me de Cristo em agonias Começa o som do órgão, morno, errante, E o aroma do incenso penetrante Como as garras aduncas do tormento E o já desejo acre de esquecer, De o longe e o mundo eu só escutar e ver, No coração me nasce brando e lento



"Saudades de Coimbra"






Oh Coimbra do Mondego

E dos amores que eu lá tive

Quem te não viu anda cego

Quem te não ama não vive



Do Choupal até à Lapa

Foi Coimbra os meus amores

A sombra da minha capa

Deu no chão abriu em Flores

“Sugestão”




Entro na Igreja majestosa e calma,

Erro na sombra sob as arcarias

Anda no ar silêncio, e a minha alma

Toma a frieza das colunas frias

Numa capela triste aonde espalma,

Doirado ilustre, chamas fugidias,

Tocam-me o peito as setas duma palma

A evocar-me de Cristo em agonias

Começa o som do órgão, morno, errante,

E o aroma do incenso penetrante

Como as garras aduncas do tormento

E o já desejo acre de esquecer,

De o longe e o mundo eu só escutar e ver,

No coração me nasce brando e lento